Nova igreja: só Eu sou o Senhor

   Estás insatisfeito com a tua Igreja? Não estás te entendendo mais com o Pastor ou a Pastora? Os cultos são enfadonhos? A mensagem não favorece os teus sonhos pessoais? Confessar pecados é coisa superada? Orar pelos outros traz estresse? Quer contribuir muito para receber muitas vezes mais? Precisa de um milagre instantâneo? Então, deixa a tua Comunidade e abre a tua igreja. Foi isto que um Missionário americano disse certa vez às pessoas decepcionadas com as suas Igrejas.

   Para confirmar esta possibilidade, um Repórter e um Editor de um grande jornal de São Paulo resolveram abrir uma igreja. Com auxilio técnico do departamento jurídico e mais R$ 418,42 em taxas e emolumentos, poderiam abrir uma igreja no prazo de cinco dias úteis. Em tom irônico,
deram o seguinte título à matéria que circula pela Internet ‘Vou abrir a minha igreja e já volto!’. Denominaram a suposta organização religiosa de Igreja Heliocêntrica do sagrado EvangÉlio (sic). Com este nome e o CNPJ poderiam abrir conta bancária e realizar aplicações financeiras com isenção de Imposto de Renda e IOF. ‘Se levássemos adiante, poderíamos nos livrar de IPVA, IPTU, ISS, ITR’, afirmam.
   O suposto caso revela que as nossas leis permitem que se possa abrir uma igreja ou local de culto como iniciativa privada. As mesmas leis favorecem todas as igrejas. É inviolável a liberdade de consciência e crença, conforme Art. 5º da Constituição Federal. Portanto, as mesmas leis que nos garantem a liberdade de culto favorecem que as questões religiosas possam ser geridas como um assunto privado lucrativo. Cabe ao Estado garantir a liberdade de culto. Contudo, é difícil discernir entre o que é manifestação de uma crença e o uso dela para fins que ferem a dignidade humana.
   Uma difícil tarefa está nas mãos de juristas, Poder Judiciário e políticos: traçar um limite entre o que é liberdade de culto e a exploração religiosa da dignidade humana. Enquanto a discussão não for feita, as pessoas prejudicadas podem buscar os seus direitos no Procon. Estranho, não?! A legislação precisa ser aperfeiçoada. É assunto de Estado. O que cabe às Igrejas? Denunciar e acolher os feridos destas práticas, que são muitos.

P. DR. ONEIDE BOBSIN Pastor da IECLB e Reitor da Faculdades EST Fonte: Jorev  (março/2011)